sexta-feira, 20 de novembro de 2009

La luna

nessa noite a lua parou sobre o lago
transformando a água em leite, e sob
os ramos das árvores, as árvores escuras

ela viu o futuro:
chuva na campa do marido, chuva
na cama dos filhos, a sua boca
cheia de água, estranhos entrando-lhe em casa

um homem no seu quarto escrevendo um poema,
uma mulher sob as árvores pensando nela, e o vento
levantando-se e levando a lua
e deixando o lago negro e o papel em branco.

Wanted

Can you give me an exact description?
Said the policeman. Her lips,
I told him, were soft.
Can you give me, he said, pen in hand,
a metaphor?
Soft as a slightly open mouth, I said.
Did she have any peculiarities?,
he asked. Long hair? Very long, I said.
Colour? I told him I could recall
little but its unmistakable scent.
What do you mean by unmistakable?,
he asked. It was the scent of a woman's hair, I said,
like Spring's younger sister.
Where were you?, he inquired.
Closer than I am to you,
close to her mouth,
to her eyes.
Her eyes?, he said, what about her eyes?
Both dark as the darkest pools, I said.
Was there any violence?, he asked.
Only the gentle hammer of her kisses,
her fleshy tongue,
the scent of her breath like a year of Summer, the... I see, interrupted
the policeman, standing up, and I am
sorry, but we know of no girl
answering to that description,
he said, putting the pen away.

Soneto da Estrada de Sintra

Era ela quem guiava
O coração ia em quinta
Sem cinto a cento e sessenta
Ao longo da estrada de Sintra.

Era eu quem lhe lembrava
Os perigos da estrada de Sintra
Nem assim ela abrandava
O coração ia em quinta.

Quem vai no lugar do morto
Não pára nenhum coração
Zunindo pela estrada de Sintra.

A condução deu para o torto
Falhou ao amor o travão
No fundo da estrada de Sintra.

Já, agora

E agora isto
a chuva já não passa nos intervalos
onde nada se passa nem espreita ninguém

E agora isto
o tempo já não é o que era
nem há pouco nem há séculos

E agora isto
seguro-te pelas pontas e já não te largo
nunca mais, meu amor, nunca mais, nunca mais

E agora isto
sobra o teu olhar já preso nos meus cabelos
molhado em pesadelos, como se não pudesse respirar

E agora isto
já não sei como partir o ar ao meio
e depois ficar só com metade para mim

E agora isto
já nem morre
nem acaba já aqui

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Muro de Silêncio

É por isso que não vejo qualquer beleza naquilo a que os humanos chamam amor. Lá fora, existe sempre - mais tarde ou mais cedo - o ruído, essa coisa ignóbil que derruba tudo em volta, quanto mais não seja com a decepção das palavras, pelo arbítrio das coisas ditas. Para cá deste muro, não existem nem amantes nem amor; e ele protege do ruído lá fora, dos sons, roucos ou estridentes, sempre contrários ao equilíbrio natural das coisas.

Aqui dentro não há disso a que os humanos chamam amor. Todas as minhas horas são iguais aos vossos pôr-do-sol e nascer do dia, as duas únicas em que vos é dado saborear um pouco de paz, aquelas em que vos é possível, se é possível a algum de vós, provar a quietude total, entrever o mundo em sossego, vislumbrar o paraíso em toda a sua glória. Vocês têm apenas essas duas horas, todos os dias, mas eu tenho as horas todas, todos os dias. Deste lado, os pássaros também cantam, mas raramente e em perfeita harmonia; a água corre e sussurra, mas docemente; o vento sopra, mas suavemente. Aqui é sempre Inverno e Verão ao mesmo tempo, e o ano é sempre o mesmo.

Não há aqui sequer linguagem, para não se cair na tentação e sujar o ar e a água e as árvores e a poeira dos caminhos. Ninguém aqui sabe falar mas toda a gente se entende, porque não é necessário nada senão aquilo que existe ou o que se pode fazer.

Aquilo a que os humanos chamam amor não faz qualquer sentido do lado de dentro deste muro de silêncio. Construí-o com as minhas mãos, pedra sobre pedra, em círculo, a toda a volta aquilo que me agrada. Todos os dias coloco mais uma fiada no muro e, cada vez mais perto do céu, são já muito poucos os sons que ainda vou ouvindo, e cada vez mais raramente.

É por isso. Não me peças que te oiça ou que entenda aquilo que dizes.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Eterna noite (Poema no espelho)

Pediste e agora recito e recito e recito a nossa chave-mestra,
aquela,
a fatal, que nos destranca, impiedosa, a muralha dos sentimentos.
Dei-me com amor, sede e submissão, como o sol da clave que me adentra,
dei-me de uma vez
no entoar da fusão que fez casa dos teus sussurros mudos.
Penduro-me nos teus braços, lancei âncora na tua Lua onde aporto, serena
e invoco
ternamente, deixa que te enfeitice como uma mulher que só assim é plena.
Mudaste-me logo ali a verdade, disparas e a bala em mim perdida,
eternamente
um domador subjugando as feras da minha resistência derrotada.
Coroei-te, com orgulho do meu rubor, messalina e vestal,
e tu, o único
senhor e mestre de quem assim despudorada chama, pede e consente.
Cravo-me no teu peito, pregos de cristal;
agora sei,
passas em breves segundos mas duras para sempre.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Noite eterna

Peço-te que repitas sem parar a nossa palavra-passe,
aquela,
a tal que reservamos apenas para os grandes momentos.
Beijo-te com fervor, fome e devoção essa palavra doce,
uma e outra vez
o som do silêncio que mora nesses teus murmúrios mudos.
Seguro-te pela crina, cravo as esporas na noite calma
e sussurro
mansamente, deixa que respire para dentro da tua alma.
Tomo-te logo ali a vontade, avanço de baioneta aperrada,
furtivamente,
um selvagem violando as trevas da tua memória inacabada.
Exibo-te com garbo e furor a minha marca, o meu sinal,
o único
distintivo de quem assim como louco ama, quer e sente.
Guardo-te no meu peito, entre grades de cristal;
agora sei,
ao menos por alguns segundos serás minha para sempre.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Passadeiras é para passar, certo?!

Caríssimos peões: se houve alguém que se deu ao trabalho de pintar passadeiras no chão deve ser para as pessoas atravessarem a estrada, certo? Ok. E se uma pessoa está no passeio, virada para a estrada, mesmo em frente a uma passadeira, é porque está à espera que o carro pare para atravessar, certo? Nem sempre...

Pois, é aqui que eu às vezes me passo. Porque odeio a sensação de ser cavalheiro, cumpridor e parar o carro para as pessoas passarem. E, depois de esperar uns bons segundos e fazer o gesto para elas atravessarem, perceber que elas estão ali como poderiam estar em qualquer lugar. Simplesmente paradas, não para atravsessar. Depois admiram-se...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O mar

Gostava de ser o teu sangrado mar,
não para ter as ondas, no seu rugir em fúria de elefante,
nem as marés, no seu virar turvo e assustado.
Antes um ribeirinho português,
pequenino e platónico,
fortemente domado,
pelas pedras de Outubro.

O rio

Gostava de ter um rio para te dar.
Não o Amazonas, no seu fluir de serpente gigante,
nem o Ganges, no seu correr sujo e sagrado.
Antes um riacho português,
tímido e anónimo,
levemente engrossado
pelas chuvas de Setembro.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Eu, stripper?!!!!

Eu adoro responder a questinários para saber, afinal, quem sou. E, de facto, há mais possibilidades de um computador definir-me melhor a mim mesmo do que eu, que não sou lá muito certo. Acabei de responder a um no FaceBook e descobri que a minha profissão deveria ser... Stipper...

Com estes pneuzinhos a mais, esta minha graça toda, não duvido que seria um sucesso e inauguraria um novo estilo: a strippocomédia...

sábado, 12 de setembro de 2009

Erótica

Paraíso

O Paraíso é melhor saboreado
de olhos fechados
Cheira a flor
Sabe a suor
Macio ao tacto
Peles em contacto
Brisa quente
corpo ardente
Gemido agudo
grito mudo
Fricção violenta
onda que rebenta
O Paraíso é melhor saboreado
de corpos emaranhados

Doce parceira de prazer sem fim
Este Paraíso somos nós quem o faz
Tu furando-me por cima de mim
Eu varando-te por trás.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Eu sou!

Sou o grito que se despenhou contra lábios cerrados! Voltei para o interior do corpo, estilhaçado, amachucado. Não morri, apesar do fracasso; desejei e lancei-me, ardente, a morte viria da imobilidade perante a inundação do sexo e coração; a morte vem aos que ardem e petrificam, assassina-os a sua inércia, pré-desvitalização em vida, andam cadáveres atormentados, carrascos de si!

domingo, 30 de agosto de 2009

Para acabar?

Numa lúcida entrevista dada ao Semanário Económico, Paulo Teixeira Pinto diz a certa altura: "Portugal pode acabar". Não são só as civilizações que entram em colapso, o mesmo pode acontecer aos países. E o nosso caminha a passos largos para se transformar num Estado falhado. Convém pensar nisto. Antes que acabe mesmo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Puzzles da vida...

Aparentemente, larguei o curso, a meio do quarto ano...não entendia o que se passava, quer fizesse ou não matricula, sempre alguma coisa me impedia de recomeçar...Impedia? É que, agora, reparo...escrevo em dois foruns, três blogs, facebook e twitter, de forma constante...é mais que evidente aquilo que, realmente, gosto de fazer...E agora? Am i...?


terça-feira, 25 de agosto de 2009

A citação do dia

"Mais vale rigor na confusão, do que confusão no rigor".

Boris Vian

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quem sabe...

...talvez fique por aqui...talvez reformule a minha existência...não, não tenho raiva de ti, nem te odeio...é medo, o que sinto...nem sei se medo de mim ou de ti...porque sou eu que quebro...mas és tu que me fazes quebrar...as minhas garras enormes? Bluff, nada mais que bluff...pois os dois sabemos bem que, encostadas a ti, nem precisam de recolher, desintegram-se...e a alma recolhe, essa sim, para não a desintegrares...


Pré-História do amor

Agita a tua fresta na minha direcção geral
para que eu invista rumo a ela
como um antediluviano animal.

O Inferno de Joana...

Há sempre um para cada um de nós, não há? Foste o meu, rodeavas-me de Inferno em troca de breves momentos perfeitos e mais que perfeitos...O meu amor custa amor...O meu amor custa tempo para me amares...o meu amor custa espaço no puzzle da tua vida...Não custa muito o meu amor, quase nada, tu todo! Que pena recai sobre quem dá o que não tem? Descobre-se vazio? Podia acusar-te, julgar-te, odiar-te, castigar-te? Para quê? Sei bem que tu és o mais severo dedo acusatório, juíz e carrasco de ti...


sábado, 22 de agosto de 2009

Ritmos circadianos...

Dadas as horas (5h40) decidi vir até aqui explicar-vos que tenho insónias...depois comecei a pensar naquela história de respeitar os ritmos circadianos...e conclui que não tenho insónias, apenas tenho imenso respeito pelos ritmos normais do meu sono e tal e isso...e entretanto deu-me o sono...por isso, acabei por vir aqui apenas para vos desejar um bom dia!!! LOL Bom diaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!


Erótica (sem título)

Doce puta de olhos langorosos
quero pecar contigo alguns momentos
sorver teus vermelhos lábios saborosos
como a polpa de frutos sumarentos

Sentir nos meus braços ansiosos
estremeções que são os meus tormentos
beijar a tua racha molhada de gozos
varar-te na eternidade dos momentos

Pouco me importa o nosso futuro
o teu corpo é que quero, puro ou impuro,
na bruta explosão deste desejar

Doce puta de olhos acesos como chamas
quero pecar contigo em todas as camas
numa foda única imensa circular.

Carolina, o PS e os caroços das cerejas

A actriz e modelo Carolina Patrocínio disse num daqueles programas de "famosos & futilidades" da televisão: "Odeio perder... Prefiro fazer batota do que perder". Eu ia escrever que a menina tinha futuro na política, mas a realidade antecipou-se-me. Ela é a mandatária do PS para a juventude, e parece ser a imagem daquilo que o PS quer que a juventude portuguesa seja: bronzeada, sorridente, vácua e estúpida que nem uma porta. Já me esquecia: esta "famosa" socratista disse também que só come cerejas depois da empregada lhes tirar o caroço, e uvas sem grainhas. Tenho cá uma impressão que a empregada da Carolina não deve votar no partido da patroazinha....

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A citação do dia

"A verdadeira nobreza não é a do sangue, é a dos sentimentos".

Edmond de Rostand

Menina...

Menina de sonhos tontos...soubessem o que me fazem ao estarem aqui...menina de sonhos bons...e um deles era o de braços abertos para mim...sem máscaras, sem incógnitas, sem reticencias...não tenho escudo, não preciso...tenho esta sensação de menina embalada, ouve alguem cantarolar e volta a casa, nesse som que é som de afecto, de pertencer, de ser aceite...ser eu e querer ser...

Soneto da Estrada de Sintra

Era ela quem guiava
o coração ia em quinta
sem cinto a cento e sessenta
ao longo da estrada de Sintra.

Era eu quem lhe lembrava
os perigos da estrada de Sintra
nem assim ela abrandava
o coração ia em quinta.

Quem vai no lugar do morto
não pára nenhum coração
zunindo pela estrada de Sintra.

A condução deu para o torto
falhou ao amor o travão
no fundo da estrada de Sintra.

Mitos urbanos sobre as férias

O que vale é que só faltam 49 horas, 2 minutos e 34 segundos, perdão, 32 segundos, perdão.... para ir de férias. E fixo-me nas palavras de James A. Nix:
«Uma das vantagens das férias é sentirmo-nos suficientemente em forma para voltar ao trabalho e tão falidos que somos obrigados a fazê-lo».

James A. Nix está enganado. (A propósito, alguém sabe quem é James A Nix? Obrigado) Enganado porque é um mito que a malta regresse de férias em forma para trabalhar; enganado porque nos dias que correm já chegamos falidos ao início das férias...

Hora de mudar

Eça de Queiroz dizia: "Os políticos e as fraldas devem ser mudados regularmente, e pelas mesmas razões". O mau-cheiro que se sente por aí dá vontade de citar outro génio das letras portuguesas, Fernando Pessoa, na Mensagem: "É a hora!".

Imaginarium