sábado, 12 de março de 2011

Brinquedo de Estranhos, Marioneta de Sonhos - um livro chamado Joana


Foi um sonho, agora é um livro. Já está disponível a encomenda online no site da editora Apenas: Brinquedo de Estranhos, Marioneta de Sonhos. :)))

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Tradução do Amor

Procuro
no vocabulário do tempo
na pausa breve que te embala as palavras
Pergunto
ao crepitar das vírgulas
onde ardem pequenos silêncios
que folheiam o dicionário do teu olhar
Encontro e ouço,
as tuas raízes perguntam
se há terra no chão da minha casa
Sim, respondo,
há terra no chão da nossa Casa.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

"Não ao Acordo Ortográfico"

Assiste-me o direito de, enquanto cidadã, principalmente por não ter sido consultada,
dizer NÃO. Assino e divulgo porque acredito nesta Iniciativa Legislativa de Cidadãos, porque não é uma causa perdida manifestar a minha revolta, porque digo "Não ao Acordo Ortográfico". Quem não quiser escrever assim faça o favor de seguir por este caminho:


Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

La luna

nessa noite a lua parou sobre o lago
transformando a água em leite, e sob
os ramos das árvores, as árvores escuras

ela viu o futuro:
chuva na campa do marido, chuva
na cama dos filhos, a sua boca
cheia de água, estranhos entrando-lhe em casa

um homem no seu quarto escrevendo um poema,
uma mulher sob as árvores pensando nela, e o vento
levantando-se e levando a lua
e deixando o lago negro e o papel em branco.

Wanted

Can you give me an exact description?
Said the policeman. Her lips,
I told him, were soft.
Can you give me, he said, pen in hand,
a metaphor?
Soft as a slightly open mouth, I said.
Did she have any peculiarities?,
he asked. Long hair? Very long, I said.
Colour? I told him I could recall
little but its unmistakable scent.
What do you mean by unmistakable?,
he asked. It was the scent of a woman's hair, I said,
like Spring's younger sister.
Where were you?, he inquired.
Closer than I am to you,
close to her mouth,
to her eyes.
Her eyes?, he said, what about her eyes?
Both dark as the darkest pools, I said.
Was there any violence?, he asked.
Only the gentle hammer of her kisses,
her fleshy tongue,
the scent of her breath like a year of Summer, the... I see, interrupted
the policeman, standing up, and I am
sorry, but we know of no girl
answering to that description,
he said, putting the pen away.

Soneto da Estrada de Sintra

Era ela quem guiava
O coração ia em quinta
Sem cinto a cento e sessenta
Ao longo da estrada de Sintra.

Era eu quem lhe lembrava
Os perigos da estrada de Sintra
Nem assim ela abrandava
O coração ia em quinta.

Quem vai no lugar do morto
Não pára nenhum coração
Zunindo pela estrada de Sintra.

A condução deu para o torto
Falhou ao amor o travão
No fundo da estrada de Sintra.

Já, agora

E agora isto
a chuva já não passa nos intervalos
onde nada se passa nem espreita ninguém

E agora isto
o tempo já não é o que era
nem há pouco nem há séculos

E agora isto
seguro-te pelas pontas e já não te largo
nunca mais, meu amor, nunca mais, nunca mais

E agora isto
sobra o teu olhar já preso nos meus cabelos
molhado em pesadelos, como se não pudesse respirar

E agora isto
já não sei como partir o ar ao meio
e depois ficar só com metade para mim

E agora isto
já nem morre
nem acaba já aqui

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Muro de Silêncio

É por isso que não vejo qualquer beleza naquilo a que os humanos chamam amor. Lá fora, existe sempre - mais tarde ou mais cedo - o ruído, essa coisa ignóbil que derruba tudo em volta, quanto mais não seja com a decepção das palavras, pelo arbítrio das coisas ditas. Para cá deste muro, não existem nem amantes nem amor; e ele protege do ruído lá fora, dos sons, roucos ou estridentes, sempre contrários ao equilíbrio natural das coisas.

Aqui dentro não há disso a que os humanos chamam amor. Todas as minhas horas são iguais aos vossos pôr-do-sol e nascer do dia, as duas únicas em que vos é dado saborear um pouco de paz, aquelas em que vos é possível, se é possível a algum de vós, provar a quietude total, entrever o mundo em sossego, vislumbrar o paraíso em toda a sua glória. Vocês têm apenas essas duas horas, todos os dias, mas eu tenho as horas todas, todos os dias. Deste lado, os pássaros também cantam, mas raramente e em perfeita harmonia; a água corre e sussurra, mas docemente; o vento sopra, mas suavemente. Aqui é sempre Inverno e Verão ao mesmo tempo, e o ano é sempre o mesmo.

Não há aqui sequer linguagem, para não se cair na tentação e sujar o ar e a água e as árvores e a poeira dos caminhos. Ninguém aqui sabe falar mas toda a gente se entende, porque não é necessário nada senão aquilo que existe ou o que se pode fazer.

Aquilo a que os humanos chamam amor não faz qualquer sentido do lado de dentro deste muro de silêncio. Construí-o com as minhas mãos, pedra sobre pedra, em círculo, a toda a volta aquilo que me agrada. Todos os dias coloco mais uma fiada no muro e, cada vez mais perto do céu, são já muito poucos os sons que ainda vou ouvindo, e cada vez mais raramente.

É por isso. Não me peças que te oiça ou que entenda aquilo que dizes.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Eterna noite (Poema no espelho)

Pediste e agora recito e recito e recito a nossa chave-mestra,
aquela,
a fatal, que nos destranca, impiedosa, a muralha dos sentimentos.
Dei-me com amor, sede e submissão, como o sol da clave que me adentra,
dei-me de uma vez
no entoar da fusão que fez casa dos teus sussurros mudos.
Penduro-me nos teus braços, lancei âncora na tua Lua onde aporto, serena
e invoco
ternamente, deixa que te enfeitice como uma mulher que só assim é plena.
Mudaste-me logo ali a verdade, disparas e a bala em mim perdida,
eternamente
um domador subjugando as feras da minha resistência derrotada.
Coroei-te, com orgulho do meu rubor, messalina e vestal,
e tu, o único
senhor e mestre de quem assim despudorada chama, pede e consente.
Cravo-me no teu peito, pregos de cristal;
agora sei,
passas em breves segundos mas duras para sempre.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Noite eterna

Peço-te que repitas sem parar a nossa palavra-passe,
aquela,
a tal que reservamos apenas para os grandes momentos.
Beijo-te com fervor, fome e devoção essa palavra doce,
uma e outra vez
o som do silêncio que mora nesses teus murmúrios mudos.
Seguro-te pela crina, cravo as esporas na noite calma
e sussurro
mansamente, deixa que respire para dentro da tua alma.
Tomo-te logo ali a vontade, avanço de baioneta aperrada,
furtivamente,
um selvagem violando as trevas da tua memória inacabada.
Exibo-te com garbo e furor a minha marca, o meu sinal,
o único
distintivo de quem assim como louco ama, quer e sente.
Guardo-te no meu peito, entre grades de cristal;
agora sei,
ao menos por alguns segundos serás minha para sempre.